Série Disciplinas Espirituais: #14 Meditação
A disciplina de prestar atenção para ver e ouvir o que nem todos estão percebendo.
Nossa 14a disciplina da Série Disciplinas Espirituais é a Meditação. De modo geral, nós gostamos de ler e estudar, ouvir sermões e pregações, palestras e podcasts sobre a Bíblia e nossa formação espiritual. Mas raramente paramos tempo suficiente para meditar no que estamos aprendendo, para nos apropriar de promessas, digerir verdades eternas e viver como pessoas que já morreram e ressuscitaram com Cristo.
Raramente paramos em silêncio, quase como alguém que prende a respiração para ouvir melhor, para prestar atenção na voz do Senhor falando conosco em sua Palavra. Como, em meio a todos os ruídos e correrias de nossa vida, podemos conhecer o nosso Deus e aprender de fato a amá-lo? Ouvindo um podcast na velocidade aumentada enquanto fazemos esteira? Não, precisamos parar e nos apresentar para esse encontro com Deus ao meditarmos em sua Palavra.
Henri Nouwen pergunta ‘Onde podemos encontrar tranquilidade de mente para poder escutar a voz de Deus? Quem pode guiar-nos pelo labirinto interior dos nossos pensamentos, emoções e sentimentos? O que fazer com nossas muitas distrações?’ (1)
Precisamos das disciplinas espirituais para nos ajudar e a meditação é muito importante porque irá nos auxiliar a dedicar nossa atenção às palavras de Deus reveladas nas Escrituras. Um salmo, uma advertência dos profetas, uma chamada ao arrependimento, uma parábola, uma história, uma declaração de Jesus, uma palavra de Paulo, Pedro, Tiago ou João vão nos ajudar a focar nossa atenção na presença de Deus. (1)
Quanto mais nos treinarmos a investir tempo com Deus, prestarmos atenção ao que ele nos diz — sim, porque nosso Deus fala conosco através da sua Palavra e da presença do Espírito Santo que conduz nossa meditação — mais descobriremos que Deus está conosco em todo tempo. (1)
Assim te convido a aprender um pouco mais sobre a meditação e a incluí-la em sua rotina de vida.
A Disciplina Espiritual da Meditação
Meditarei em tuas ordens e refletirei sobre teus caminhos. — Salmo 119:15
Que atividades Jesus desenvolveu? Solitude e silêncio; oração; uma vida simples e sacrificial; estudo intenso e meditação na Palavra e nos caminhos de Deus; e o serviço ao próximo. Algumas dessas coisas serão certamente muito mais necessárias a nós do que foram a Ele. A nossa necessidade é maior e diferente. (2)
O ato de esconder a lei no coração e a constante meditação nela têm um impacto real em nossa vida em todos os seus aspectos: desde à ampliação da compreensão de Deus e fortalecimento da fé, até a tomada de decisões e forma de enxergar a realidade. O Salmo 119 é uma canção contínua de louvor à vida que resulta de “esconder a Palavra no coração”. O Salmo 1 descreve a vida daquele que “tem satisfação na lei do Senhor e nela medita dia e noite”. (3)
Porém, em nosso contexto atual, estamos acostumados com ruído, pressa e super ocupação. Associamos a meditação com as religiões orientais somente e ignoramos a riqueza dessa disciplina espiritual. Não ouvimos as pessoas com atenção, consumimos informação instantânea e não vemos as coisas que estão escritas bem na nossa frente. Isto é, estamos sendo moldados para não prestar atenção, não focar, não meditar com cuidado nas palavras que lemos e ouvimos. Por isso, teremos ainda mais dificuldade para ouvir a Deus.
A meditação cristã, segundo Richard Foster, é a capacidade de ouvir a voz de Deus e obedecer à sua Palavra. O que percebemos em todas as ocasiões descritas na Bíblia (desde o AT até o NT, Abraão, Jacó, Moisés e Noé, assim como João, Pedro e Paulo) são pessoas aprendendo a viver orientadas pela voz de Deus e pela obediência à sua Palavra — atentos, buscando, prestando atenção para ver e ouvir o que nem todos estão percebendo. Jesus deixou o exemplo. Todos os santos, em todas as épocas, deram testemunho dessa realidade. O clérigo anglicano Jeremy Taylor disse: ‘a meditação é dever de todos.’ Dietrich Bonhoeffer, ao ser perguntado sobre seus motivos para meditar, respondeu: ‘porque sou cristão.’ (2)
A meditação cria um espaço para acalmarmos os muitos ruídos dentro de nós e à nossa volta, e nos deixarmos invadir pela atenção na presença do Senhor através da sua Palavra. A presença contínua de Jesus deixa de ser um dogma teológico e passa a ser uma realidade radiante. A meditação abre a porta para a realidade da presença do Senhor. (2)
Para isso é necessário ouvir com atenção, e aí somam-se as disciplinas do silêncio e da solitude. Se ficarmos agitados e presos num redemoinho de atividades infinitas, não conseguiremos concentrar-nos nas horas de silêncio interior. A mente atormentada e fragmentada vai sentir grande desconforto com a meditação. E talvez esse seja um sinal do quanto precisamos parar e nos aquietar diante de Deus. (3)
A forma principal de meditação é a meditação nas Escrituras. Enquanto o estudo gira em torno da exegese, a meditação procura internalizar a passagem e torná-la pessoal. A Palavra escrita torna-se viva e dirigida para cada um de nós. É uma atitude de humildade, de prostrar-se diante de um Deus que fala conosco através da sua Palavra e aquietar-se para ouvir melhor.
Dietrich Bonhoeffer diz: ‘assim como você não analisa as palavras de alguém que você ama, mas as aceita como lhe são ditas, aceite a Palavra das Escrituras, guarde-as no coração, como fez Maria. É só isso. Isso é meditação.’ No seminário fundado por Bonhoeffer, todos praticavam meia hora de meditação silenciosa sobre as Escrituras. (2)
Richard Foster orienta para resistirmos à tentação de percorrer várias passagens superficialmente. Então, algumas de suas orientações práticas para a meditação são:
- Escolha trechos curtos, uma parábola ou poucos versículos ou até uma frase apenas.
- Leia devagar, várias vezes, depois em silêncio deixe as palavras criarem raízes em você.
- Imagine-se na cena meditada. Sinta o cheiro do mar, contemple a multidão, toque nas vestes dele, sinta a fome, a vergonha, receba o olhar atento, a palavra de consolo. Alexander Whyte aconselha que a ‘imaginação verdadeiramente cristã jamais permite que Jesus Cristo saia de nosso campo de visão. Você abre o NT e, pela imaginação, naquele instante, você é um dos discípulos de Cristo, no lugar certo, e está aos pés dele.’
- Memorize versos chaves e se alimente do alimento espiritual que eles te trazem. Deixe-se nutrir e fortalecer pelas verdades bíblicas sabiamente reveladas.
- Deixe-se conduzir pelo Espírito Santo, trazendo à mente, imaginação e coração, o que o Senhor quer para você neste momento. Consolo, confronto, alegria, lamento, esperança, transformação. (2)
Ao criar esse espaço para a meditação em nossa vida, estamos nadando contra uma forte correnteza que nos leva para as distrações constantes, superficialidade das relações, pressa, falta de foco e interrupções. Por isso, seja forte e insista, persista em praticar a meditação, a inclua em sua agenda. Ela não é uma atividade isolada, mas um estilo de vida que vai influenciar seus ritmos e ajustar a bússola de seu coração para a direção correta.
Você quer conhecer as promessas que o Senhor fez? Ser capaz de perceber a sua presença e experimentar o seu amor? Saber discernir a realidade e tomar decisões melhores? Quer desenvolver a sabedoria? Vencer o medo e a ansiedade? Não se esquecer da Palavra do Senhor? Desfrutar de paz e alegria em seus caminhos? — o segredo para desenvolver todas essas coisas é meditar na Palavra do Senhor continuamente. Precisamos nos exercitar nessa prática para fazer dela um hábito prazeroso.
Salmo 1:1–3 nos diz: “Feliz é aquele que não segue o conselho dos perversos, não se detém no caminho dos pecadores, nem se junta à roda dos zombadores. Pelo contrário, tem prazer na lei do Senhor e nela medita dia e noite. Ele é como a árvore plantada à margem do rio, que dá seu fruto no tempo certo. Suas folhas nunca murcham, e ele prospera em tudo que faz.”
Oremos
Pai Nosso, abre nossos ouvidos para te ouvir, acalma nosso coração e ajuda-nos a criar esse espaço sagrado onde podemos nos aquietar diante do único Deus Verdadeiro que sustenta nossas vidas em amor. Alimenta-nos com sua Palavra e fortalece-nos com sua presença. Por Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém.
Referências citadas no texto:
(1) Henri Nouwen. Espaço para Deus: um convite para a vida espiritual. São Paulo: Impacto, 2019.
(2) Richard Foster. Celebração da disciplina. São Paulo: Editora Vida, 2007.
(3) Dallas Willard. O Espírito das Disciplinas. Editora Habacuc, 2003.
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