Minha Vida Devocional
O lugar das Disciplinas Espirituais na vida diária.
A Série Disciplinas Espirituais serviu para nos ajudar a perceber que há vários recursos disponíveis que, na maior parte, não utilizamos ou ignoramos. Recursos necessários para desenvolver nossa vida devocional, isto é, aquele tempo intencional de encontro com Deus em nossa vida diária, que tantas vezes dizemos que gostaríamos de melhorar. Recursos que o próprio Deus preparou para nós e os quais Jesus também usou e nos ensinou a usar para desenvolver uma vida de devoção (2 Pedro 1:3).
As disciplinas que vimos foram baseadas nos livros de Richard Foster e Dallas Willard que tratam sobre o assunto, sendo elas:
- Celebração
- Silêncio
- Simplicidade
- Solitude
- Submissão
- Serviço
- Confissão
- Statio
- Descanso
- Adoração
- Memorização
- Oração
- Jejum
- Meditação
- Estudo
Não é uma lista fechada e espero adicionar outras com o tempo. Você pode clicar em cada uma para aprender sobre elas e aos poucos inseri-las em sua rotina. Pode ler uma por semana, por exemplo, e aprender o sentido por trás desses exercícios. Há também uma playlist do Spotify com o áudio dessas disciplinas, além de algumas entrevistas onde falo sobre elas:
É importante perceber que as disciplinas são parte de um processo maior de formação espiritual. Talvez esse adjetivo ‘espiritual’ faça você pensar em coisas bem distantes da realidade atual, o céu e a vida eterna que ainda virão. Mas essa formação recebe o nome ‘espiritual’ por envolver um aprendizado específico: sermos guiados pelo Espírito de Deus e discernirmos sua voz.
Esse processo acontece agora, em meio à nossa vida diária, cheia de aspectos bem concretos relacionados ao trabalho, escolhas, relacionamentos, pessoas, cuidados com a casa, o corpo, a comunidade e a igreja. Esse aprendizado se desenvolve no momento presente em nossa vida ordinária, enquanto Cristo está sendo formado em nós (Gálatas 4:19).
É um processo que se desenvolve ao longo do tempo e ao qual precisamos nos dedicar todos os dias. Paulo diz em Gálatas 5:16–17, “deixem que o Espírito guie sua vida. Assim, não satisfarão os anseios de sua natureza humana. A natureza humana deseja fazer exatamente o oposto do que o Espírito quer, e o Espírito nos impele na direção contrária àquela desejada pela natureza humana. Essas duas forças se confrontam o tempo todo, de modo que vocês não têm liberdade de pôr em prática o que intentam fazer.”
Como vamos aprender a ser guiados pelo Espírito?
Para isso, precisamos ser formados na escola de Jesus, onde ele nos ensina a viver como ele viveu. E uma vez que aprendemos a viver pelo Espírito, vamos poder seguir a direção do Espírito em todas as áreas de nossa vida presente (Gálatas 5:25). Neste contexto, as disciplinas são exercícios que vão nos ajudar nesse treinamento que é realizado e conduzido pelo próprio Deus ao longo do tempo de nossa vida.
Você pode chamar essas atividades de ‘disciplinas espirituais’, mas eu prefiro chamá-las de ‘exercícios de treinamento para a alma’. — James Bryan Smith
Qual é a sua experiência?
Pensar em Disciplinas Espirituais levanta várias questões e se você tentou colocá-las em prática, à medida que foi lendo sobre cada uma delas, pode ter percebido que não é algo tão simples ou fácil de se fazer. Há desafios e obstáculos dentro de nós e ao nosso redor, mexemos em hábitos distorcidos, tocamos em pecados enraizados e enfrentamos uma série de dificuldades.
Conversei com muitas pessoas que entraram em contato comigo e relataram essas dificuldades e fizeram perguntas: Como praticar o silêncio sem cair no sono? Eu posso meditar fazendo uma caminhada? Como praticar as disciplinas sem cair em um legalismo? Como fazer isso em uma rotina com filhos pequenos?
Bom, pensando em identificar as dificuldades e dúvidas que vocês tiveram, eu preparei este formulário para vocês preencherem e, a partir das suas respostas, vou abordar os aspectos que vocês trouxerem.
Exercícios de Treinamento
Como um atleta que se esforça em seu treinamento, todos nós precisamos de exercícios, práticas e hábitos, que nos auxiliem a vencer limitações internas e obstáculos externos para que possamos viver como discípulos de Jesus. Fazemos isso para nos submetermos à transformação real operada pelo Espírito Santo em nós, que não acontece por mágica ou osmose. Paulo diz que nós também nos esforçamos e nos disciplinamos para esse processo se desenvolver em nós (1 Coríntios 9:24–27).
Fazemos isso porque através destes recursos que o próprio Deus provê a nós, vamos conhecendo mais sua vontade e crescendo em sabedoria e entendimento espiritual. Sua palavra vai se tornando mais doce a cada dia; sua voz mais suave; sua vontade mais conhecida; sua presença mais amada. Então passamos a viver de modo a honrar e agradar ao Senhor, dando todo tipo de bom fruto e aprendendo a confiar em Deus cada vez mais (Colossenses 1:9–10).
Muita coisa está acontecendo em nós agora, enquanto vivemos uma nova vida que já começou. E o quanto antes percebermos que já vivemos no Reino de Deus, e usarmos os recursos que ele preparou para nós, melhor responderemos a ação de Deus em nós e através de nós, sendo guiados por seu Espírito.
O Espírito Santo posiciona-se ao nosso lado, dentro de nós e ao nosso redor quando nos engajamos em exercícios espirituais. Cada exercício não teria valor algum se não fosse por obra do Espírito Santo. Quando abrimos e lemos a Bíblia, concentrando nossa atenção em Deus, o Espírito ilumina nossa mente. Quando oramos, não oramos sozinhos. O Espírito nos inspira a orar, ora conosco e em nosso benefício. — James Bryan Smith
Diante disso, eu gostaria de trazer luz sobre 5 aspectos relacionados à prática das disciplinas espirituais.
1. Controle x Submissão
Exercitar as disciplinas é uma atitude de submissão a Deus, de reconhecimento pelo que ele já fez em Jesus Cristo e está fazendo através do Espírito Santo que age em nós. A prática distorcida das disciplinas para ter mais controle sobre si mesmo, ou uma barganha para exigir algo de Deus, não se sustenta ao longo do tempo e acabará sendo abandonada. Veja as disciplinas como recursos necessários, buscados e praticados em submissão ao Senhor, tendo uma consciência adequada de quem ele é e do que ele continua fazendo em nossa vida presente.
É preciso também reconhecer que eu não tenho em mim todos os recursos necessários para ser transformada à imagem de Jesus. Minha mente precisa ser ensinada, meus afetos precisam ser reorientados, minha vontade precisa ser domada, meu caráter precisa ser transformado. Eu não sei como viver uma nova vida e preciso de humildade para me submeter ao discipulado de Jesus e ser ensinada por ele, diariamente.
2. Liberdade x Repetição
A repetição de exercícios é necessária para qualquer treinamento e isso não equivale em uma perda de autenticidade ou de liberdade. Pelo contrário, a prática de exercícios constantes ao piano, exercícios simples e repetitivos, é que me deixarão apta para ter liberdade de tocar uma música inteira. A repetição de movimentos similares no basquete é que me capacitará para jogar com liberdade em um jogo real. A prática constante dos mesmos movimentos ao dirigir um carro, trocar de marcha, pisar nos pedais, é que gravará em meu ser o modo automático de dirigir, me trazendo liberdade para conduzir o carro de maneira segura.
Do mesmo modo, as disciplinas espirituais são exercícios de treinamento para nós, que gravam a palavra do Senhor no mais profundo do nosso coração com a memorização, moldam nossa mente através da leitura, meditação e estudo da Palavra, calam as muitas vozes através do silêncio, nos ensinam a nos relacionarmos através da solitude, serviço e submissão. E, assim, quando diante de uma escolha, em uma provação ou tentação, em um conflito, teremos liberdade para agir guiados pelo Espírito e não mais por nossa velha natureza pecaminosa.
3. Instantâneo x Processual
Em nossa pressa e impaciência, nos comportamos como se ao sair de um culto ou atividade religiosa a transformação fosse instantânea. Nos tornamos pequenos santos imediatamente. Porém, nossa formação espiritual é um processo longo e demorado, que levará toda nossa vida para acontecer. As disciplinas são recursos que nos deixam mais conscientes desse processo à medida que vamos percebendo o crescimento da semente, o fortalecimento da planta, o surgimento de flores e frutos. Algo que não conseguimos perceber completamente está sendo formado em nós, Cristo está sendo formado em nós.
E precisamos nos engajar intencionalmente com esse processo o quanto antes. Não quando eu tiver mais tempo, não quando eu entrar de férias, nem quando eu me aposentar… isto é, quando eu fizer tudo o que quero fazer primeiro, todas as outras coisas que são prioridades para mim, então, somente depois, vou me dedicar para minha formação espiritual e investir tempo para as disciplinas espirituais. Não seja enganado(a) com esses pensamentos, comece agora!
4. Para ser visto x Para ter intimidade com Deus
Também corremos o risco de querer praticar as disciplinas para sermos vistos pelos outros. Vejam como eu oro 3 vezes por dia, jejuo 2 vezes por semana… A perspectiva correta da prática das disciplinas é a submissão a Deus. A humildade que reconhece que precisa de ajuda e clama por socorro. A necessidade de conhecer a Deus. A busca por intimidade, o anseio pelo encontro, com aquele que amamos. O orgulho irá distorcer a realidade e buscar o controle do processo. Para isso não acontecer é preciso ter sempre diante de nós o temor do Senhor: ‘eis-me aqui, Senhor, com minhas mãos vazias em resposta ao seu chamado’.
5. Passividade x Atividade
O orgulho também se infiltra sorrateiramente na armadilha da passividade. Se eu não controlo o processo do meu jeito, então também não vou fazer nada. Porém, tal pensamento envolve uma ilusão: a de que é possível ser neutro e não fazer nada. Estamos sempre fazendo alguma coisa e o que fazemos, o que escolhemos intencionalmente fazer, está nos moldando em um tipo de pessoa, mais próxima ou mais distante de Deus.
Cada vez que escolho não ler a Bíblia, eu escolho fazer algo com esse tempo, seja dormir, assistir um filme, ler um livro, estudar ou trabalhar mais um pouco. Precisamos escolher as atividades que irão nos fortalecer espiritualmente e nos ajudar nos momentos em que mais precisarmos de socorro. Somos chamados a confiar no poder do Espírito Santo momento a momento, atuando em nós e produzindo uma vida virtuosa onde estamos agora. Somos ativos nesse processo, assim como Deus também está ativo agindo em nós.
As disciplinas espirituais são canais da graça transformadora do Espírito. — Dallas Willard
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